sábado, 25 de julho de 2009
o dia dos solitários
Sábado não deveria ser dos sozinhos. Deveria virar decreto: temos que ter alguém no sábado. Que seja o amor de mãe ou a lembrança do pai, mas alguma coisa, não importa tanto o que. O domingo parece não ser dia. Assemelha-se a uma obrigação, por isso o sábado deveria ser o dia. O dia do infiel que virou fiel. O dia do maior porre na noite do Rio de Janeiro. O dia da lembrança de estrangeiros hoje fora de contexto (?), que corre no corredor do trem bem longe das nossas estações. É para sábado: a comida da avó, o beijo mais ardente do namorado ou o abraço do amigo. Até sexo é para sábado. Sendo assim, o domingo nem precisa ser dia, estamos sem forças mesmo. Talvez os sozinhos gostem da sexta feira. Alguma esperança tem para sábado: o telefone que irá tocar, o e-mail que vai ler ou uma visita a receber. Todos os sonhos para sábado.
Porém, somente os solitários cantam a melodia desse dia. Somente quem espera muito encontrar razões para defender o decreto. Quem está feliz, quem está amando, ou simplesmente, quem quer tomar um porre, não ousa protestar.
No final das contas estamos sozinhos no sábado: na hora do cigarro depois do sexo, quando a amiga joga buraco no computador. Quando a mãe deve ir para casa, depois de ajeitar a casa da filha. O irmão já sente saudade de outra vida senão a de costume, de parar o gol das esquinas com feitos do Bom Jesus e da lembrança antiga e não mais feita do porre que te leva para casa sozinha depois de tanto dançar, sorrir e olhar.
Sábado deveria ser, para aqueles que viajam, a volta para casa, uma viagem com os pais. O dia em que a filha deita no colo do pai para ver desenho. A hora em que a mãe pergunta: _ Minha filha, o que deseja comer hoje? Tem dias em que se deseja comer amor de mãe, somente. Sábado deveria ser do amigo-irmão que limpa o peixe, come e conversa, até que nossos maiores segredos sejam desvendados como o pobre do peixe morto. Sábado deveria sofá velho, que escolhemos par ficar em casa o dia inteiro vendo filme. A casa da amiga estaria ao lado da sua. Nesse sábado iríamos lembrar como éramos felizes. Como projetávamos o futuro sem projeto algum.
Meu sábado de hoje tem cheiro de flor. Uma flor meio resfriada, angustiada e cheia de incertezas, assim mesmo como eu, assim como você que ousa ler a essa crônica.
Há tempos tenho sábados não tão solitários na companhia de uma amiga diferente. Ela lança seu olhar de “espere que já estou indo”, ou já chega com o almoço pronto. Nós, aqui desse lado de nossos corações ainda temos uma escadaria larga e de degraus cansativos para caminhar. Muita coisa a aprender, muito saldo para lamentar. Mas no final, antes que o dia termine, nós, aqui, olhamos uma na outra e rimos das injustiças e peripécias da vida.
Que seu sábado seja sempre bonito como seu sorriso, Lala.
Beijo
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