sexta-feira, 17 de julho de 2009

devaneios


Olho para o vizinho sozinho as quatro da manha. Seu corpo parece caber exatamente em minha mão. Apago a luz para ver melhor e ele gosta. Cruza para lá e para cá. Quer meu telefone, desconverso. Não atendo o interfone, sei que é ele. Continuo no escuro, quero olhar aquele corpo perfeito. Ele abre a janela e me chama. _Quer subir aqui? Não sou assim, mas quero. Ele só consegue ver o fogo do cigarro e isso confirma a minha presença. Ele continua a caminhar e grita que está cansado. Começo a rir, ele abre mais um pouco a janela e tira a blusa. Fecho a minha e vou dormir.
Pela manhã, o bilhete. “Dormiu com a janela aberta e vi seu sono”. Não dormi com a janela aberta, ele sonhou comigo.
No outro dia a mesma coisa, ele me espia vendo tv. O interfone toca. Atendo sem querer. _ Quer ver filme aqui? – Minha televisão é ótima, obrigada, respondo. Ele insiste _ então posso assistir ai? Pergunta difícil de ser respondida. Verei-o todos os dias, será esquisito viver assim. Falo não e boa noite. Ele tira a camisa novamente. Fuma na janela. Pergunta se quero uma maça. Pego a chave de casa e subo a escada. Estou em frente a seu apartamento. Coloco minhas mãos na porta. Acaricio a porta. Olho pelo buraco da fechadura, tudo escuro. Volto, desço as escadas correndo. Chego no ultimo degrau e penso no que quero. Vou para casa e lá está ele: na mesma janela, com o mesmo cigarro e sem camisa. _ Vou dormir, falo rápido. Ele sorri e pergunta quando serei dele. Volto e falo: _Quando não houver mais janelas, cigarros e nem luzes apagadas.
No outro dia espero por ele. Não há ninguém. Nem janelas, cigarros e as luzes estão todas acesas...

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