sábado, 25 de julho de 2009
maquinista da arte
Saí de casa pelo caminho mais curto, o que sempre tomei quando ia olhar a estação de Pádua que por agora se tornou um teatro. Os comboios não viajam mais por ali constantemente, um ou outro dá o ar da graça de tempos em tempos.
Em minha mente conhecia todas as pedras do caminho, tinha-as catalogadas. E minha pedra preferida era João.
Quando nova, desde o dia em que um professor de inglês insistiu que eu daria uma excelente atriz, meus olhos desviaram da platéia. Não ligava se o caramelo moreno trocava bilhete com minha amiga, não procurava sabem quem chegou para assistir às peças. Os meus olhos estavam prontos, seguidos à coxia, ao silencio da cortina que demorava a abrir.
Apaixonei-me por João quando ele encenou o Auto da Compadecida. Sua interpretação era tão natural e cheia de entusiasmo que fiquei no teatro seguidamente, dia após dia vendo-o iluminar os corações na platéia.
Perder o teatro, perder a encenação de João, perder quase tudo próximo a criatividade não estava nos meus planos. Os anos, como o desvio dos trens que por ali passaram tão rapidamente que me esqueci. Esqueci de criar, de juntar pessoas no mesmo vagão de sentimentos.
A cerca de três anos voltei ao Teatro-Estação. Fui ver o que havia sido feito com tudo aquilo. Encontrei pouco ânimo, nenhum incentivo municipal, garotos e garotas que passavam ali nas horas vagas. Mas no palco, como um comboio antigo que apita como chamado estava João. Organizando um teatro na peça da cidade assistindo audições com o mesmo jeito de que tudo vai dar certo, pelo menos pelos próximos dez minutos. Mas não pude deixar de perceber naquele olhar uma dúvida: E se um comboio de palhaços, bailarinos, cantores, atores acenasse para ele agora? E se ele pudesse ser aplaudido calorosamente como anos atrás no Auto da Compadecida?
Talvez João como eu tenha tomado o caminho mais curto e hoje nesse trajeto, olha seu teatro e pensa: O comboio vai, mas em alguma hora ele passará aqui novamente deixando sempre uma nova chance.
Foto: João, que me ensinou a amar Val.
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Muito me engrandece suas palavras.
ResponderExcluirMesmo que eu não fosse assim, assim eu me faria para você.
Beijos gigantes.