sexta-feira, 31 de julho de 2009
" A televisão matou a janela"
Poderia ser trágico saber que existam pessoas que não gostam de fazer certas coisas com você. Explico: ninguém gosta de ver televisão comigo. Ninguém! Sofro de um surto ou sei lá o que, quando estou vendo tv. Fico irritada com a maioria dos programas (mas assisto tudo) e muitas vezes, tenho tanta vergonha do que está acontecendo que viro a cara para a parede e falo mal até cansar. A vergonha acontece geralmente quando estou assistindo aos programas da Luciana Gimenez, Brito Jr, Márcia Golsh (*&¨%$$@), Faustão, Gugu etc, ou assistindo jogo de futebol narrado por Galvão Bueno (isso me deixa louca de ódio).
O caso é que estou cada dia mais sozinha em frente a tv. As pessoas já sabem do meu “probleminha” e nem me convidam mais para assistir a nada. Fico sozinha no meu quarto, vendo a mesma coisa que passa na sala.
Não ligo para isso, já estou acostumada e é até bom, pois fico injuriada quando o controle remoto não está comigo. Mas ontem percebi que estou mesmo precisando de dupla terapia.
Estava no meu quarto assistindo a um seriado americano e nos intervalos coloquei no programa da tal Marcia Golsh(*&¨%$$@). O que é aquilo?, tinha lá uma simulação tosca de uma historia de traição. Fiquei tão revoltada que não consegui voltar para o seriado. A história ia passando e eu mais nervosa ficava. Então, sozinha em casa, comecei a colocar para fora toda a minha revolta. Falei pelos cotovelos e alto! Nisso, o interfone tocou. O porteiro disse o seguinte: _ Ingrid, a Dona Selma (minha vizinha) ,do 605, quer falar com você. Ela vai tocar a campainha ai agora.
Desliguei o interfone (não sei porque ela pediu isso ao porteiro, mas...) e fiquei esperando. A mulher apareceu e disse que eu estava atrapalhando sua concentração. Que ela estava tentando assistir ao programa da Márcia e eu metendo o pau nela. Pedi desculpas, disse que ia mudar de canal.
Não resisti. Pensei bem: tenho que continuar a ver a história, tenho que saber onde isso vai dar! Quieta no meu canto, tentando me controlar ao máximo, continuei assistindo.
Eu estava bem, devo dizer. Nem gritava mais com a tv. Até que uma cena me tirou toda a lucidez: Márcia parou o vt da traição e começou a fazer aviãozinho no palco. Não agüentei. Fui para a janela e gritei:
_ Oh, Dona Selma, isso é demais para mim. Essa mulher dá vergonha de ver, puta que pariu!!!!
Dona Selma fechou a janela na minha cara.
Devo e posso estar ficando louca, e se eu continuar a assistir a esses programas, vou acabar estando em algum deles, contando minha história de solidão em frente a televisão. Se bem que iria com prazer ao programa da tal Márcia... só para dar uma porrada na cara dela.
Como diz Arthur Xexéu: Controle remoto rápido!
Foto: a bela Márcia da tarde
Informações Inúteis
Tenho um amigo que coleciona informações inúteis. Tudo o que não acrescenta nada á ninguém (pelo menos na teoria), ele adora. Tem uma coleção de dar inveja ao autor do livro Guia dos Curiosos. Ontem não pude deixar de lembrar dele.
Estava na faculdade, sentada naqueles inúmeros banquinhos de espera. Ao meu lado, um casal discutia algo muito esquisito: quanto tempo o filho iria ser amamentado. O livro que eu estava lendo foi para o beleleu e só consegui prestar atenção na conversa alheia. Olhei rápido para o casal e não vi nenhuma barriga na mulher. Queria algo que justificasse o diálogo. Nem aliança, nada. Somente duas pessoas trocando idéias sobre leite materno. A mulher falou para seu companheiro que não iria amamentar muito, pois seus seios iriam cair. Ele, por sinal, disse que pagaria a plástica.
Desatinei a formular mil histórias para achar uma explicação para minha total curiosidade em relação à conversa dos dois. Não encontrei, mas continuei ouvindo.
Na verdade, achei que era aquele tipo de casal apaixonado, que sonha antes da hora. Sabe como é? “Ah, quantos filhos vamos ter? Quais nomes colocar?”. Mas juro, discussão por causa de amamentação eu nunca tinha visto.
Comecei a ficar mais empolgada quando o homem virou para a mulher, amante, namorada ou sei lá o que e disse: _ Você sabia que bebês amamentados por menos de três meses podem apresentar queda no desenvolvimento intelectual? Ah, não! Essa foi demais para mim. Quis levantar e perguntar onde ele tinha lido aquilo. Precisava urgentemente daquela pesquisa.
A mulher desatou a rir, dizendo que ele estava mentindo de novo. Peraí. De novo? Então o cara é um inventor. A conversa estava melhorando. _Querido, lembra a história do fim do mundo? Esperem um pouco, qual história? Comecei a mexer no banquinho de tanta curiosidade. Quero saber a do fim do mundo também!
O sujeito aumentou o tom de voz e disse que leu sobre amamentação em um artigo retirado de um estudo na Universidade de Ciência da Noruega. A partir daí comecei a acreditar que o cara era mesmo um mentiroso. Noruega?
Meu ônibus chegou e tive que ir para casa. Fiquei com aquilo na cabeça o dia inteiro. Amamentação, desenvolvimento intelectual, Universidade da Noruega...
Em casa, abri a internet em um site de pesquisa e escrevi um pequeno texto que pudesse conter tais palavras que me deixaram Cabrera.
Para meu espanto havia mais de 500 notícias sobre o assunto. Realmente era verdade. A pesquisa foi publicada no Britsh Medical Journal (que chique!). Os cientistas avaliaram as habilidades motoras e intelectuais de 345 crianças em dois momentos: aos 13 meses e aos cinco anos. Dois terços delas foram amamentadas por seis meses ou mais, enquanto o restante passou a tomar leite em mamadeiras aos três meses.
O estudo não apontou déficit nas habilidades motoras, mas as crianças amamentadas por menos tempo apresentaram capacidade intelectual abaixo da média das que foram amamentadas por mais tempo no peito.
Coitado do cara, estava falando a verdade. Pelo menos sobre o estudo.
Depois disso tudo, penso somente em duas coisas:
Tomara que o cara possa mesmo pagar uma plástica para a mulher e que ela amamente até não haver mais leite.
Outra coisa: que informação preciosa deixei nessa crônica, não? Fala a verdade, vocês não poderiam dormir sem saber sobre isso!
foto: que coisa inútil essa mulher está fazendo!!!!
quinta-feira, 30 de julho de 2009
eitaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
(2002- recordar não é viver!!!!!)
Eu, Aninha e Gracinha estávamos no meu quarto onde o ventilador de teto ameniza o dia. Ouvimos então, um burburinho lá embaixo. Gracinha foi a primeira a falar: _Olhem lá para baixo, pelo amor de Deus, estão arrumando a varanda para um churrasco. Corremos todas, com caras esfomeadas e começamos a imaginar a comida que serviriam lá embaixo. Como não temos intimidade com aquele “povo”, resolvemos juntar trocados para encomendar um belo churrasco no restaurante da esquina.
Bem, os trocados que restaram do sábado dançante, onde fomos comemorar o aniversário de Fernanda, não foi o suficiente para a comida desejada. Então, resolvemos fazer uma mistura com a carne e legumes que tínhamos. Só que o cheiro do churrasco era irresistível e ficamos na janela imaginando aquela picanha bem passada, farofa e molho. Gracinha não resistiu e começou a fazer graça: _ Ei, deve estar bom o churrasco de vocês. Animado, não? E nada acontecia, nenhum convite. Começamos a imaginar a cena: uma de nós sendo convidada para o churrasco e, depois de uma hora de festa, essa levaria a “quentinha” para casa. Mas nada, meus amigos, nada aconteceu. Gracinha começou a ter arrepios constantes e pedia em alto e bom tom um pedacinho de frango. Aninha só admirava a mesa posta, a quantidade de pão com alho e conseguiu ver até o arroz saindo da panela. E eu? Só debrucei meu corpo na janela e sorri. As meninas tentavam ser gentis, amigáveis, e até disseram que a dona da casa estava mais magra e esbelta.
O churrasco foi “banhado” a Julio Iglesias e no meio da tarde os convidados dançavam sem parar. E muito da comida sobrou. Os velhinhos bailavam e nossos olhos avistavam até feijão-amigo. Conseguíamos ver as crianças recusando pratos de comida e nós três ali, mortas de fome, loucas de vontade de encher a barriga de churrasco.
Fechamos a janela quando reparamos que não iríamos receber nada.
Às seis da tarde ouvimos os parabéns. Hora do bolo. Não resistimos e corremos para ver. Meu querido leitor, você não tem idéia do que havia na mesa: torta de maracujá, bolo de chocolate, pavê e o caramba. Começamos a rir, Aninha passou mal, Gracinha ficou revoltada e eu perdi a cabeça. Contei os andares e fui lá na casa da aniversariante.
Ao descer no elevador, lembrei que a tal dona da festa vendia roupas e foi aí que me dei bem. Toquei a campainha e falei: _ Desculpa incomodar, mas não é aí que estão vendendo roupas? A mulher foi muito gentil, disse que sim, mas estava comemorando o aniversário e perguntou se eu não poderia voltar outro dia. Eu então, falei que trabalhava longe e que chegava muito tarde em casa. A mulher, louca para vender as roupas, me chamou para entrar. Quase caí dura no chão. Na cozinha havia comida de tudo quanto é jeito e cor! Salgados, doces, churrascos, bebidas. Comecei a ficar branca de tanta fome. Ela então, perguntou se eu não aceitaria um pedaço de bolo. Sorri como uma criança e escolhi um pavê maravilhoso.
Sentei-me na varanda, conheci os familiares (um deles me perguntou: _Você já comeu torresmo de dentro da barriga do porco? Ah, eu dizia sim a tudo!). Olhei algumas roupas (sempre recusando) e depois de 15 minutos comecei a ouvir certos gritos. Como eu estava fascinada com tanta comida nem dei muita bola, só percebi a confusão quando meus ouvidos reconheceram as vozes. Aninha e Gracinha estavam desesperadas lá em cima, me gritavam como loucas, pediam bolo, doces, salgados e eu fingia que nada estava escutando. As pessoas da festa começaram a reclamar das duas e olhavam para cima a toda hora. Comecei a ficar sem graça e falei que outro dia voltaria.
Cheguei em casa e apanhei até me trancar no quarto e de barriga cheia, só saí de lá no outro dia.
E imagine só: não tive dinheiro nem para um churrasquinho de gato quanto mais para comprar roupas da aniversariante. Não pisei no elevador por um mês naquele prédio.
Foto: Gracinha e Aninha, agora na melhor das fases!!!!!
Para Melissa que reapareceu depois de quatro anos... (só te matando, mulher!!!)
Fevereiro 2003
No domingo de Carnaval fui ao sambódromo (no Rio de Janeiro) ajudar Melissa, uma amiga, nas reportagens de folia. Confesso que é um pouco estressante, um corre corre ridículo no meio de tanta fantasia.
Lá para as duas da madrugada, depois de não agüentar ver tanta gente pelada, resolvi me sentar na dispersão. Melissa atravessou o lugar como um furacão. Sentou-se ao meu lado e disse: _Ingrid, Rodrigo Santoro está aí. Os olhinhos da criatura pareciam brilhar ao falar o nome do ator. E repetia constantemente a mesma frase: _Rodrigo Santoro está aí. O que eu poderia fazer? Nada. Não conheço o cara, nunca falei oi, nem sei para que lado ele estava. Então, minha amiga resolveu procurá-lo e ainda por cima me levou a tira colo.
O que me deixava mais irritada era a passagem pela bateria do Salgueiro, já sendo “desmontada” na dispersão. Meus ouvidos pareciam implorar por um pedaço de algodão e lá ia a escola de samba a todo vapor: “Salgueiro, vermelho....”. Já estava com vontade de largar Melissa onde fosse para ir embora, mas bêbada do jeito que ela estava no mínimo, seria demitida.
Então, tive a péssima idéia de perguntar aos outros jornalistas se algum deles havia visto Rodrigo Santoro na avenida. Um amigo, do jornal O Globo deu o resultado final. _Sim, vi Rodrigo (olha a intimidade do cara!), ele está no camarote da Brahma. Meu querido leitor, Camarote da Brahma, no carnaval do Rio quer dizer Impossível para míseros mortais como nós. Mas não para Melissa que desejava invadir o lugar se fosse preciso:_Ingrid, me ajuda a bolar um plano para entrarmos no camarote.
O plano foi o seguinte: encontrar um repórter credenciado pela Brahma e “trocar” de crachá. Para que isso ocorresse, deveríamos mudar de país, pois jornalista nenhum é capaz de fazer essa caridade. Melissa entrou em desespero quando, bêbada, jogava conversa demais e nenhum companheiro de profissão aceitava nenhuma proposta. Comecei a ter um pouco de raiva em relação à figura de Rodrigo Santoro. Por causa dele, eu estava um trapo, com bolhas nos pés, passando vergonha no meio artístico e tendo que segurar uma amiga bêbada. Jurei que se encontrasse o ator, no mínimo, daria alguns tabefes na cara dele.
Às 4 horas da manhã Melissa desistiu da perseguição. Depois de muita briga, de muita ameaça, consegui convencê-la a voltar ao trabalho.
Escola de samba vai, escola de samba vem e eu já não diferenciava peito caído ou de silicone. Estava com sono, sentada em um pedaço de jornal quando Melissa aparece do nada com um brilho diferente nos olhos. Dava saltos para cima e para baixo. Perguntei logo o que havia acontecido e ela disse o seguinte: _ Achei o local exato onde Rodrigo Santoro vai embora. Um vão que passará no final do desfile. Vamos ficar lá até que ele possa descer. Ah, não! Isso era demais para mim. Quis morrer ou até matar Melissa. E lá fui atrás do local onde, “deslumbrante”, sairia o ator.
Para encurtar a historia, Rodrigo não saiu de lugar algum. Nem eu nem Melissa o vimos. Resolvi ir embora e Melissa me acompanhou. Ao olhar para o camarote pela ultima vez, Melissa deu um grito: Lá estava Rodrigo sorrindo. Olhava para as escolas de samba com uma tranqüilidade de dar inveja. Parei um segundo e não pude deixar de perceber que ele era melhor do que qualquer “fantasia” de carnaval.
No dia seguinte, ainda embriaga pelo ator, liguei para Melissa. Do outro lado do telefone, ela me disse: _ Ah, Ingrid, é hoje que consigo uma vaga no camarote da Brahma e bem do ladinho de Rodrigo Santoro! E, como não sou boba, respondi: _ Uma vaga não, querida, você terá que conseguir duas!
Passado o carnaval, apareceram os prejuízos: não consegui crachá nenhum, Melissa quase foi demitida, e o mais perto que cheguei de Rodrigo Santoro foi olhar a nova propaganda Havaianas em que o ator é protagonista. E pior, vou ter que comprar essas sandálias, porque depois de tanta perseguição, não entra sapato nenhum por causa da quantidade de bolhas nos meus pés...
Foto: Rodrigo: muita areia para o meu caminhão!!!!
Ninguém Escreve à Alice
12:43
Hi para dentro da sua caixa de mail...
Portugal continua o mesmo desde a semana passada, não é? Tenho visto em alguns jornais. Minha room made namora “virtualmente” um português por esses dias e a RTP vive antenada por aqui. Mas veja, hoje lembrei de você porque estava andando na Universidade desatenta e ouvi um sujeito cantando Rui Veloso.
“Mas o carteiro passou
Nada deixou nada disse
E o recado não chegou
Ninguém escreve à alice
Ninguém escreve à alice”
Se não me engano, você me mostrou essa musica e hoje o simpático português, professor de Sociologia, canta entusiasmado a saudade de seu país. Sinto saudade de seu país, nunca mais fui aí por lembranças, nunca mais teci um minuto de conversa ao seu lado, nunca passeei no Alentejo de caminhos cruzados. Talvez tenhas saudades de um Brasil de olhos verdes, calejados e embriagados de carinhos por ti. Uma vez aqui, nunca sozinho, uma vez aqui, a esperança ainda está.
Venha sempre que quiser, minha caixa de mail é sua...
Beijos no ombro esquerdo,
Ingrid
terça-feira, 28 de julho de 2009
Viva la Vida
I used to rule the world
Seas would rise when I gave the word
Now in the morning and I sleep alone
Sweep the streets I used to own
I used to roll the dice
Feel the fear in my enemy's eyes
Listen as the crowd would sing
"Now the old king is dead! Long live the king!"
One minute I held the key
Next the walls were closed on me
And I discovered that my castles stand
Upon pillars of salt and pillars of sand
I hear Jerusalem bells are ringing
Roman Cavalry choirs are singing
Be my mirror, my sword and shield
My missionaries in a foreign field
For some reason I can't explain
Once you go there was never
Never an honest word
That was when I ruled the world
It was the wicked and wild wind
Blew down the doors to let me in
Shattered windows and the sound of drums
People couldn't believe what I'd become
Revolutionaries wait
For my head on a silver plate
Just a puppet on a lonely string
Oh who would ever want to be king?
I hear Jerusalem bells are ringing
Roman Cavalry choirs are singing
Be my mirror, my sword and shield
My missionaries in a foreign field
For some reason I can't explain
I know Saint Peter won't call my name
Never an honest word
But that was when I ruled the world
Oh, oh, oh, oh, oh
Hear Jerusalem bells are ringing
Roman Cavalry choirs are singing
Be my mirror, my sword and shield
My missionaries in a foreign field
For some reason I can't explain
I know Saint Peter won't call my name
Never an honest word
But that was when I ruled the world
Sonhar com: Empada... Reconciliação com parentes e amigos. Reatamentos amorosos.
Por um só motivo e esse é triste e cômico e inconsolável, não fui buscar as empadas que você me mandou. Talvez eu esteja pensando o oposto, mas, a imagem que me vêem à mente é de alguém que “tece” empadas. Nem sei se você as faz. Não sei se comprou na esquina. Mas olho, minha querida, como um carinho feito, um embrulho destorcido de amor para embalar amigas.
Quando te conheci, imaginei em mim, seus cabelos. Tão lindos, tão perfeitamente simétricos. Daí, imaginei alguém para brincar com eles. Porque, se você não sabe, as amigas têm essas manias: sonham para elas o que desejamos para nós. E desejo um maridinho para ti a brincar nos cabelos. E suas empadas na portaria, como presente de terça-feira soltam o sabor de querer bem. Querer que alguém te faça feliz numa terça com empadas saídas do forno.
Desculpa não poder agradecer melhor,
Beijos
Ingrid
segunda-feira, 27 de julho de 2009
cartinha
Como foi o seu domingo? O meu foi mesma balela de sempre. Museus e cinema barato. Sabe que, às vezes, acho que gostaria de trabalhar em museus, porque dariam muitas crônicas. Hoje teve um cara louco que me perseguiu por onde eu estava indo, e em todos os museus que eu entrava, o cara fazia o mesmo. Sabe que pensei em tudo: morte, roubo, e muitas coisas que ele poderia fazer comigo. (tenho uma ótima imaginação pra tragédias), só que no final das contas o cara era mesmo um "intelectual" chato que ao ver um quadro de Andy Warlol (é assim que escreve? Sempre esqueço), imagina centenas de teorias sobre o pintor. OBS_ vi um Basquiat, (isso pode dar um livro!) Um quadro que ele fez com Warlol. Morri de rir porque pensei em fazer sexo em cima dele só para apaga-lo (vou receber mails maldosos, já sei!)
Os museus do Rio cheiram a sabedoria. Uma constante fragrância costumeira.
Puta que pariu!!! Pessoas bem vestidas e com ar de superiores. E olha que
coisa interessante: estava usando um vestido jeans longo e me acompanha com sandálias caramelos (uma bobeira). Aí, encontro lá dentro uma mulher com um chapéu europeu ridículo, que só se vê em corridas de cavalos no Brasil. Ela me olhava e eu a olhava e ficou assim até irmos embora. (por que raios conto isso??!!).
Lembrei muito de você, pois vi uma galeria linda de poemas
escritos em quadros. Lindo, lindo! Havia muitos eróticos e pena não terem,
por lá, lugares para masturbação. E consegui encontrar, novamente, pessoas que indagavam a frase “Vamos foder o dia inteiro?” do filme Separações de Domingo de Oliveira. E sempre aquela mesma coisa: “um poema tão lindo que acaba com tal frase, isso é absurdo!”. E é exatamente por isso que acho que acabarei sozinha nessa merda de vida mesmo. As pessoas aqui são ridículas. As conversas são todas certinhas, amenas, nada choca, nada tem péssima interpretação e se você diz a verdade (aquela mesmo que todos conhecem, sabem e fazem) é, sutilmente, excluída. E como isso me ofende!
Ok, depois de tantos assuntos interessantes (para não dizer o contrario)
Vou embora antes que você pare de ler essa carta. Eu só espero uma resposta à altura.
Vamos lá, me conte uma sacanagem que fez, uma vergonha, um anseio, uma
puta que pariu alguém, mas, por favor, me tire dessa vida corriqueira e chata.........
Beijos
Ingrid
Para finalizar: por que, raios, você vai pra Espanha só para trabalhar até uma da manha? Você pegou meu vírus da insônia?
domingo, 26 de julho de 2009
“Venha atrás de mim”
No silencio imenso dessa cama vou memorizando todos os gestos que você já fez e não passam por mim. Analiso sem discrição os contornos de seu rosto, a total absorção, o jeito de mexer com o cabelo, o vinco da calça. Na janela, sempre na janela, um cinzeiro e maços de cigarro espalhados pelo quarto. O silencio entre nós (aquele que não é dito porque não há necessidade alguma) não se iguala ao silencio da casa, do prédio, da cidade, é dramaticamente superior.
Havia dias que meu sorriso largo não aparecia, dias em que uma amiga me dizia “você ainda cheira a sexo”. O meu sorriso não é nada mais do que o espelho de uma solidão que não é sozinha. Nada na solidão tem gosto insustentável, um mal dito. Nada. E há dias em que brinco de não gostar realmente dessa solidão. A minha historia talvez possa começar com um pé para fora da cama (porque esse não cabe nela), uma careta que amedronta, um violão de cinco cordas. Talvez. Talvez seja mesmo como a musica que embala frases quase vindas de um filme. Escrevo talvez porque tudo tem um prazo e nós temos um prazo (ainda não estabelecido). E nem tudo é claro para mim. Era claro no começo, que você seria uma passagem, um divertimento, nenhum corte em minhas regras. Eu seria apenas uma outra pessoa num tempo limitado.
Aí vejo um olhar de espanto, vindo de você (quando estava dentro de mim) que avisou algo sobre o amor. Não me lembro muito bem o que, mas foram segundos intermináveis em que eu te olhei e me vi parada, dentro de você, como se algo, enfim, pudesse ter a perfeita sintonia. Nessa altura, meu sorriso prolongou para lá de nós, encheu as ruas, senti que ele se espalhava por meu corpo como um invólucro feliz. Do meu corpo, depois, quando você passeava com sua boca, tranqüilamente, lá embaixo, percebi apenas as diferenças, a pele esguichar, o sexo redondo e uma súbita vontade de não voltar no tempo muito longe. Nessa bendita hora pensei que não foi ali que te encontrei. Soube de você mais vezes, muitas e outras vezes. Quando vi seu sono tranqüilo de dias atrás, colei meu corpo perto da cama e tentei adivinhar um esconderijo para nós bem embaixo dos lençóis, um mapa de aventuras despejado no colchão, uma forma de fugir da rejeição do mundo. Assim eu te encontrei mais uma vez, sendo como eu que não tolera a mesmice que a vida ainda nos faz passar. Então, na hora do olhar de espanto pensei que o amor era assim, acima de todas as solidões.
O que foi que nos aconteceu? O tempo pesou? Porque o tempo, para nós, não pára, é elástico com todo seu peso desnecessário. Será que aconteceu alguma coisa errada no ciclo do mundo e viramos dois amantes de clichês, de dores (juntas) acumuladas, do esquecimento em usar palavras por dizer? Pois ainda não entendo o que acontece quando uma porta se tranca e dentro do quarto há nós dois.
Nessa noite, antes de dormir, lembrei de uma frase que li em algum livro perdido em minha memória “só eu escapei para te trazer estas noticias”. E do meu lado só há noticias boas. O desdém diário que sempre sinto ao acordar, dá lugar, agora, a certeza de que, dias após dia, ainda terei uma cama para deitar com você, mesmo que a semana seja um estado de dormência, de torpor. Continuo dormindo pouco, o armário continua desarrumado, tenho ganas, às vezes, de pular o muro e dizer que tudo está muito chato, mas aí escuto seus cds, tomo um banho de memória e relembro os bons dias. Isso tudo faz com que eu espere um pouco mais para negociar um bom preço pela vida.
Calculo que você não saiba disso, que não tenha sequer lembrado de um olhar de espanto. Nunca disse nada porque não é concreto e pode, de uma maneira ou de outra, ser individual. Mas lembro do seu jeito de dizer sobre meu amor. De como me preocupo com seu medo permanente de não se encaixar, um medo de falhar, de errar, de viver, de quebrar expectativas, de desiludir. Preocupo porque amo e isso você já sabe.
A vida com você não é o que eu esperava. Afinal, achei que fosse como os outros. Não faço nada como fazia. Não me sento nos mesmos lugares, nem dou ouvidos às mesmas pessoas, procuro chorar na sua frente para acostumar com a intimidade e guardo em mim um coração que bombeia forte e descontrolado. Aposto que você também não sabia disso.
Se for voltar no final de semana, quero que você saiba que o silencio dessa cama é seu, que o violão só funciona com suas mãos. Deve saber que seus cds estão guardados, que não lembro da ultima briga e que durmo com sua camisa. Quero que você saiba que mesmo jurando um sim, não consigo te fechar a porta nem ao menos impedir que você entre. E sei mais um pouco: sei abrir a porta, olhar para trás e dizer “venha atrás de mim?!”
Ingrid
sábado, 25 de julho de 2009
o dia dos solitários
Sábado não deveria ser dos sozinhos. Deveria virar decreto: temos que ter alguém no sábado. Que seja o amor de mãe ou a lembrança do pai, mas alguma coisa, não importa tanto o que. O domingo parece não ser dia. Assemelha-se a uma obrigação, por isso o sábado deveria ser o dia. O dia do infiel que virou fiel. O dia do maior porre na noite do Rio de Janeiro. O dia da lembrança de estrangeiros hoje fora de contexto (?), que corre no corredor do trem bem longe das nossas estações. É para sábado: a comida da avó, o beijo mais ardente do namorado ou o abraço do amigo. Até sexo é para sábado. Sendo assim, o domingo nem precisa ser dia, estamos sem forças mesmo. Talvez os sozinhos gostem da sexta feira. Alguma esperança tem para sábado: o telefone que irá tocar, o e-mail que vai ler ou uma visita a receber. Todos os sonhos para sábado.
Porém, somente os solitários cantam a melodia desse dia. Somente quem espera muito encontrar razões para defender o decreto. Quem está feliz, quem está amando, ou simplesmente, quem quer tomar um porre, não ousa protestar.
No final das contas estamos sozinhos no sábado: na hora do cigarro depois do sexo, quando a amiga joga buraco no computador. Quando a mãe deve ir para casa, depois de ajeitar a casa da filha. O irmão já sente saudade de outra vida senão a de costume, de parar o gol das esquinas com feitos do Bom Jesus e da lembrança antiga e não mais feita do porre que te leva para casa sozinha depois de tanto dançar, sorrir e olhar.
Sábado deveria ser, para aqueles que viajam, a volta para casa, uma viagem com os pais. O dia em que a filha deita no colo do pai para ver desenho. A hora em que a mãe pergunta: _ Minha filha, o que deseja comer hoje? Tem dias em que se deseja comer amor de mãe, somente. Sábado deveria ser do amigo-irmão que limpa o peixe, come e conversa, até que nossos maiores segredos sejam desvendados como o pobre do peixe morto. Sábado deveria sofá velho, que escolhemos par ficar em casa o dia inteiro vendo filme. A casa da amiga estaria ao lado da sua. Nesse sábado iríamos lembrar como éramos felizes. Como projetávamos o futuro sem projeto algum.
Meu sábado de hoje tem cheiro de flor. Uma flor meio resfriada, angustiada e cheia de incertezas, assim mesmo como eu, assim como você que ousa ler a essa crônica.
Há tempos tenho sábados não tão solitários na companhia de uma amiga diferente. Ela lança seu olhar de “espere que já estou indo”, ou já chega com o almoço pronto. Nós, aqui desse lado de nossos corações ainda temos uma escadaria larga e de degraus cansativos para caminhar. Muita coisa a aprender, muito saldo para lamentar. Mas no final, antes que o dia termine, nós, aqui, olhamos uma na outra e rimos das injustiças e peripécias da vida.
Que seu sábado seja sempre bonito como seu sorriso, Lala.
Beijo
20:52
Noite que não descansa o dia.
Passos que vem e vão como ondas desse mar que inspira velhinhos na praia.
As vezes penso em não descer no meu ponto... deixar que o carro me leve para outro lugar.
Nenhuma beleza impossível passou por mim hoje. Ainda assim, fiquei procurando em todos os lugares.
Muitas vezes nessa semana sonhei com uma mistura sinistra de cores, de encontros... pessoas que não quero ver, ou quem desejo que esteja por perto, todos me destruíram em sonhos nessa semana.
Essa porta que bate é a minha?
Que saudade daquele lugar que ainda não fui... certamente alguém sente minha falta, bem lá longe, no interior, no lado de lá, no lado de cá.
Pulei do carro, chorei para que me levassem para casa. Quis cair em um pranto infinito quando soube que não saberia de nenhum sorriso mais no dia
Canso de escrever... não tenho mais fé no que faço. Sei responder cartas, nada mais.
Sei fingir que escrevo, sei andar em carro que não segue meu caminho.
Mas o velho, esse sim, olhou para mim na praia e cruzou o olhar de desprezo. _ Corra, mulher, seu dia está fechando.
Procurei pela beleza errada. Deveria ter procurado no esgoto perto de casa... lá estão todos aqueles que não precisam de maquiagem.
A beleza total está bem ali., onde quero ficar.
As cores dos sonhos se misturam com meus pensamentos.
Não tenho tempo para lembrar sonhos. Talvez um ou outro, mas não todos.
Ontem foi o menino da novela. Uma pele clara, olhos azuis, loiro... nada que gosto.
Ele chegou e perguntou porque não me beijam a boca. Sorri ao receber o beijo. Não lembro do beijo.
Agora aqui, vendo a novela, tenho nojo do beijo. Ele não deveria beijar meus lábios, pois esses estão selados.
foto: rosa do jardim da minha mãe
maquinista da arte
Saí de casa pelo caminho mais curto, o que sempre tomei quando ia olhar a estação de Pádua que por agora se tornou um teatro. Os comboios não viajam mais por ali constantemente, um ou outro dá o ar da graça de tempos em tempos.
Em minha mente conhecia todas as pedras do caminho, tinha-as catalogadas. E minha pedra preferida era João.
Quando nova, desde o dia em que um professor de inglês insistiu que eu daria uma excelente atriz, meus olhos desviaram da platéia. Não ligava se o caramelo moreno trocava bilhete com minha amiga, não procurava sabem quem chegou para assistir às peças. Os meus olhos estavam prontos, seguidos à coxia, ao silencio da cortina que demorava a abrir.
Apaixonei-me por João quando ele encenou o Auto da Compadecida. Sua interpretação era tão natural e cheia de entusiasmo que fiquei no teatro seguidamente, dia após dia vendo-o iluminar os corações na platéia.
Perder o teatro, perder a encenação de João, perder quase tudo próximo a criatividade não estava nos meus planos. Os anos, como o desvio dos trens que por ali passaram tão rapidamente que me esqueci. Esqueci de criar, de juntar pessoas no mesmo vagão de sentimentos.
A cerca de três anos voltei ao Teatro-Estação. Fui ver o que havia sido feito com tudo aquilo. Encontrei pouco ânimo, nenhum incentivo municipal, garotos e garotas que passavam ali nas horas vagas. Mas no palco, como um comboio antigo que apita como chamado estava João. Organizando um teatro na peça da cidade assistindo audições com o mesmo jeito de que tudo vai dar certo, pelo menos pelos próximos dez minutos. Mas não pude deixar de perceber naquele olhar uma dúvida: E se um comboio de palhaços, bailarinos, cantores, atores acenasse para ele agora? E se ele pudesse ser aplaudido calorosamente como anos atrás no Auto da Compadecida?
Talvez João como eu tenha tomado o caminho mais curto e hoje nesse trajeto, olha seu teatro e pensa: O comboio vai, mas em alguma hora ele passará aqui novamente deixando sempre uma nova chance.
Foto: João, que me ensinou a amar Val.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Para ler
"eu vi sombrias velas. Onze estrelas. A lua tambem. O sol, fazendo-me a reverência, em silêncio, ao longo do meu sonho".
Théoplipe Gautier começa seu conto, A cafeteira, citando, como acima, A Visão de José.
A Cafeteira é um conto magnífico, uma história observada de modo peculiar pelos ares do devaneio. vale a pena.
foto: o autor
sábado, 18 de julho de 2009
00:14 (publico domingo)Odeiooooooooooooo
Sabe que odeio quase tudo no domingo, não é?
Domingo para mim é assistir a quatro filmes, dez seriados numa cama de casal cheio de comidas, lanchinhos, doces, salgados. Encoxar, como Larissa.O domingo normal, sem isso não deveria existir e se existisse deveria durar duas horas no máximo. Quando fui operar (não era domingo), falei para o anestesista que gostaria de anestesia geral
para todos os domingos. Ele deve ter achado isso um tanto melancólico.Pois,
poucos meses atrás, o reencontrei em Pádua. Ele me perguntou: _ E aí? Domingo ainda é dia de anestesia para você? Achei tão linda aquela lembrança da minha melancolia. Até porque já fazia mais de um ano que operei e ele não esqueceu. Sentados no banco da praça, perguntei a ele qual era seu dia de anestesia. Ele ficou parado, olhando para o nada e disse: _ Quarta feira! É o meio do caminho! Não entendi muito (entendi?) e ficamos em um silencio melancólico, absurdo e triste. As vezes ele me liga aos domingos e eu retribuo nas quartas.
Notícia desnecessária do dia (estava faltando isso!):
Fui ao cinema hoje, sozinha. Há um clima diferente quando vou só. Não sei. Hoje cheguei cedo, entrei na sala e não havia ninguém. Por um momento pensei que o filme poderia estar lá só para mim. O filme? Jean Charles. Um eletricista mineiro, que chega a Londres para morar com os primos Vivian, Alex e Patrícia. Em 22 de julho de 2005 ele é morto por agentes do serviço secreto britânico no metrô local, confundido com um terrorista. O fato abala a vida dos primos, que precisam reconstruir a vida ao mesmo tempo em que buscam por justiça.
O desnecessário, além da morte de Jean Charles? Tirei as meias no meio do cinema. Pensei estar em casa por segundos que se tornaram duas horas. Relaxei. Desculpa.
Foto: filme
livro do dia
“Medusa já fora uma bela mulher. No entanto, tendo se exposto à ira dos deuses, tornou-se uma visão do horror, com serpentes como cabelo e um olhar que transformava todos os seres em pedra. Auxiliado pelos mesmos deuses que a amaldiçoaram, um jovem se apropriaria e faria melhor uso de seus poderes. Armado com as ferramentas necessárias, Perseu planejou uma estratégia, cortou a cabeça de Medusa e partiu rumo a outros triunfos. A exibição prudente de sua cabeça em momentos cruciais contemplava sua bravura, petrificando seus inimigos. O poder do olhar que tornou Medusa um monstro fez de Perseu um herói.”
Do livro Amor e Arte
Foto: Perseu e Medusa(1554), de Cellini
sexta-feira, 17 de julho de 2009
?
Você não disse a data especial da sua vida. O mesmo acontece quando lembro do dia em que encontrei aquele cara no calçadão da praia. Ele estava parado, lendo um livro e cultivava um frescor nos cabelos. Fiz de tudo para parar de caminhar, desejava saber qual o livro preferido dele. Enfiei a cara em sua leitura e depois pedi desculpas.
Tem certeza que me entende? O mesmo acontece quando escrevo “o mesmo acontece..”. Não tem razão, nem solução, não vê?
Desenho de Luis na sua varanda em Tomar
devaneios
Olho para o vizinho sozinho as quatro da manha. Seu corpo parece caber exatamente em minha mão. Apago a luz para ver melhor e ele gosta. Cruza para lá e para cá. Quer meu telefone, desconverso. Não atendo o interfone, sei que é ele. Continuo no escuro, quero olhar aquele corpo perfeito. Ele abre a janela e me chama. _Quer subir aqui? Não sou assim, mas quero. Ele só consegue ver o fogo do cigarro e isso confirma a minha presença. Ele continua a caminhar e grita que está cansado. Começo a rir, ele abre mais um pouco a janela e tira a blusa. Fecho a minha e vou dormir.
Pela manhã, o bilhete. “Dormiu com a janela aberta e vi seu sono”. Não dormi com a janela aberta, ele sonhou comigo.
No outro dia a mesma coisa, ele me espia vendo tv. O interfone toca. Atendo sem querer. _ Quer ver filme aqui? – Minha televisão é ótima, obrigada, respondo. Ele insiste _ então posso assistir ai? Pergunta difícil de ser respondida. Verei-o todos os dias, será esquisito viver assim. Falo não e boa noite. Ele tira a camisa novamente. Fuma na janela. Pergunta se quero uma maça. Pego a chave de casa e subo a escada. Estou em frente a seu apartamento. Coloco minhas mãos na porta. Acaricio a porta. Olho pelo buraco da fechadura, tudo escuro. Volto, desço as escadas correndo. Chego no ultimo degrau e penso no que quero. Vou para casa e lá está ele: na mesma janela, com o mesmo cigarro e sem camisa. _ Vou dormir, falo rápido. Ele sorri e pergunta quando serei dele. Volto e falo: _Quando não houver mais janelas, cigarros e nem luzes apagadas.
No outro dia espero por ele. Não há ninguém. Nem janelas, cigarros e as luzes estão todas acesas...
filme do dia
Veronica Guerin
Baseado em uma história real, o filme Verônica Guerin retrata a vida da jornalista irlandesa que em 1996 escreveu uma matéria sobre os barões do crime e os traficantes de drogas mais poderosos de Dublin. Mais tarde, no mesmo ano, foi morta por assassinos contratados pelos mesmos criminosos que ela havia denunciado em seu texto.
O roteiro mostra a difícil escolha da jornalista em sacrificar sua família pelo que acreditava ser uma reportagem que mudaria o país, como aconteceu. Precisou Verônica morrer para mudar as leis da Irlanda.
quinta-feira, 16 de julho de 2009
POR QUEM, POR QUE O CORAÇÃO BATE,JOSÉ?
O homem que deita ao meu lado não é o de sempre. Talvez por sua profissão possa mudar todo dia, mas não é o de sempre. Foge da conversa da sala por um livro que talvez seja melhor que qualquer conversa. Hoje e agora ele está sozinho com um livro e música, o que quer mais da vida? Boa pergunta que talvez, ao parar de ler por uns minutos, o homem esteja por perguntar-se.
O homem que só escuta e pouco fala tem suas vidas. Eu tenho a minha, única e inconstante, mas não esse que estende seu corpo, como se pensasse: para que amar de novo? Suas vidas são transparências de seu caminho.
O computador não me deixa nenhuma alternativa, senão a de descrever o momento. E o homem me olha como se não soubesse o que virá, e pede para que escreva uma nova vida para ele. Não posso, não tenho esse dom, se tivesse, reescreveria a minha gora mesmo. Pois sempre me falta algo.
Sempre falta algo ‘a todos. Quando procuramos alguma coisa e achamos, já estamos em outro lugar, mundo, destino. Queremos mais, sempre mais. E assim, a vida se enche de objetivos e nos deixamos viver ao coração, dúvida ou molestas.
O homem não quer mais o livro, aprendeu tudo? Não tudo, mas o suficiente por hoje. Olha para meus pés como se oferecesse um pouco de estrada, e olha para meus dedos que munem minhas idéias, querendo saber que projetos minha mente irá desatar agora.
Agora não há mais horas, dias ou anos. Estamos trancados nesse quarto sem vida. Parados no tempo com nossos próprios pensamentos. Aqueles secretos que nem mãe descobre. Sonhos, ilusões talvez, mas trancados como o presidiário que matou o amor que não queria perder. Estou presa nos pensamentos do homem e ele nos meus. Nem uma palavra, mas para que palavra? Para que serviria se não queremos dizer nada. Eu apenas escrevo e ele apenas observa.
O tempo, que estava perdido, invade minhas horas vagas como um furacão. Tenho que ir. Deixarei o quarto, deixarei os pensamentos, deixarei o homem.
“ O homem entendeu que as feridas de seus heróis são mais profundas. Seu coração, uma vez capaz de inspirar os outros, não inspirava a si mesmo. Só batia por costume, só batia porque batia”
Fique com o quarto, livro, a música, mas não esqueça do coração, que deve bater por qualquer razão, não por costume, não por bater. O meu ás vezes parece que nem bate, mas não é por isso que deixarei de entrar nesse quarto, verificar se seu cheiro no travesseiro ficou e pensar na sua nova vida, aquela em que seu coração tem milhões de motivos para bater.
Ciau, a mulher aqui deve seguir viagem.
quarta-feira, 15 de julho de 2009
chico
Tudo em Tese
Onde está? Já te procurei por todos os cantos da casa. Sabe como é, por falta de ti, qualquer coisa vai mesmo esquentando o bumbum no PC. Ando muito “bipolar” hoje. Quero dizer, há tempos, há três dias para ser exata. Nem remédio ajuda. Canto com freqüência, quero fazer tudo ao mesmo tempo. Meto os pés pela cabeça e faço e falo besteiras. Tudo compulsivamente, e tudo inglório. Nada dá resultado porque, você sabe, atropelando a vida assim... nada mesmo vai prestar. Nos dias bons de Niterói, converso com um futuro escritor, um rapaz de 20 aninhos que roda pela noite afora comigo para procurar novos rumos de escrita nessa cidade dorminhoca. Mas ontem ele se perdeu entre outras pessoas e, apesar de reclamar, achei mesmo bom escrever sozinha, e antes disso, olhando a praia pela noite, vi um cardume. Foi tão esquisito! Uma atração fora do contexto, aglomeração de pescadores afoitos chegando para buscar o prêmio, um desinteresse total com a alegria de mil peixinhos juntos!
Sinto sua falta, possessivamente, vai me desculpar. Possessa sim. A esperar aquilo
que parece perfeitamente imperfeito aos olhos que não temos. Porque não temos nada, nossas mãos tocam teclados de pc e canetas e papéis e eu continuo “bipolarizada” por aqui..... vou parar e mandar essa porra para seu mail..... vc lê mails.?????????
Bj
Índia
terça-feira, 14 de julho de 2009
quadro
Trabalho da semana: artigo sobre Gala, a musa de salvador Dali.Começo pela biografia dela de 400 páginas, o que para mim, é um prazer!!!
"Gala trouxe-me, no verdadeiro sentido da palavra, a ordem que faltava à minha vida. Eu existia apenas num saco cheio de buracos, mole e delicado, sempre à procura de uma muleta. Ao juntar-me à Gala, encontrei a minha coluna vertebral e, ao fazer amor com ela, preenchi a minha pele."
foto: gala e dali
segunda-feira, 13 de julho de 2009
melancolia
...tudo muda e se perde ao toque de caixa, do caixote sobre os ombros e te conto, eu quero uma loucura mesmo! Mas as coisas são só bonitas quando romanceadas. Na vida real é uma merda só, a mesma porra todo dia, o tal caixote a bater forte em nossa cara a dizer: _ você é um merda! Só a loucura nos salva disso. E loucura é recusar. E recusar normas, nomes, definições, tudo que seja por si só organizado me deixa excitada. Mas até que ponto podemos viver assim? Até que dia? Escolhi ser livre, mas não programei a vida para isso. Então, o único conselho que posso te dar é esse: programe o tempo de sua loucura, analise o dia em que essa caixa vai cair dos seus ombros e se partirá em pedacinhos. Pena que para isso, você tenha que viver alguns anos como os “imbecis” que vemos nas ruas todos os dias. Mas acho que no final de tudo, vai valer a pena. Programe-se!
“Mas eu sofro _ juro que até aos próprios limites da loucura _ como se tudo
pudesse fazer e contudo fosse incapaz por deficiência da vontade (...)” Fernando Pessoa
Foto:bebe de olho azul
12-07-09 cartas...
A sua carta não quer ir. Ela brinca, desagrada, chora... mesmo assim, vai ser feliz em Portugal
"Ela — que morava no fascínio,subitamente se instalou no ódio.Quando o perfume das cartas...,ah, as cartas, ridículas, que jamais foram;ridículas essas outras, as de comprar, as de vender;[...],ou, nem me escreves" —Soares Feitosa
10-07-09 liguei para Portugal
09-07-09 Tudo o que você não conhece
07-07-09
Vamos fazer da morte, a alegria. Traremos um banquete alucinante com musicas e desenhos. Pintaremos um quadro louco, onde poderemos entrar e sair sem pedir licença. A morte pode ser a palavra errada com gosto de certa. O cordão amarrado com nós para serem retirados. Deve ser um filme, uma peça, uma ciranda, um ano, pode ser a liberdade que só poucos consentem.